...ou que é uma figura?
Não fora a confusão lançada por alguns sábios nos meios eruditos — ao considerarem as figuras no teatro como sendo os actores — seria desnecessário abordar aqui uma questão tão trivial ensaiando uma explicação (didáctica) sobre o que é uma figura, em geral e, o que é o mesmo, uma figura no teatro.
Em geral, uma figura na sua forma mais elementar é um simples sinal de algo, um indício (uma marca deixada por uma pata, uma mão), a imitação (sonora ou visual) de alguma coisa. E uma imitação não é a própria coisa em si, é uma outra coisa que se constitui representando a primeira. Por exemplo, um retrato (fotografia) é uma destas imitações, e, só aparentemente é feita pela máquina… As imagens de uma câmara de vídeo (vigilância) estática, são registos de uma acção, que registam ínfimas partes de um ou mais acontecimentos de um ponto de vista muito limitado, e em geral são insuficientes para representarem o todo de uma acção — e insuficientes para caracterizar convenientemente todas as figuras obtidas pela câmara — e, por isso, usam-se várias câmaras de vídeo, e ainda assim são quase sempre insuficientes para caracterizar as figuras, por vezes são mesmo insuficientes até para identificar as pessoas (os actores) naquelas figuras obtidas no vídeo.
A relação entre a coisa em si e uma sua figura implica sempre a interveção humana (socializada) e alguma actividade do invidíduo, mesmo para realizar a leitura de um simples sinal, de um indício e muito mais na leitura de uma imitação mecanizada (fotografia, vídeo, etc.), muito mais ainda se a imitação é o resultado de um processo de trabalho individual sobre a coisa em si.
A questão complica-se exponencialmente com a evolução da sociedade e a consequente integração de extensas simbologias, linguagens, geometrias, lógicas, etc., etc.. Contudo, figuras como as descritas, das mais simples que podemos imaginar (sinais, indícios, etc.) estão presentes a cada momento ao indivíduo, e como estas as mais complexas bem como todas as intermédias, socializadas, históricas, individuais e colectivas.
Assim como um triângulo ou uma circunferência, as figuras são sempre ideais, as suas representações concretas são um resultado imperfeito das figuras ideais, foram assimiladas pelo Homem (sociedade) a partir da sua actividade social e acomodadas. Por exemplo, um indício, como uma pegada de um gato, só é reconhecivel mediante a intervenção do indivíduo com a figura, na sua mente, da marca deixada pela pata do gato, de outro modo, nem sequer se põe a questão, pois não existirá para o indivíduo, nem gato, nem pegada, nem figura, de outro modo o indivíduo não se pode aperceber de nada. O mesmo se passa com um simples sinal.
Exposta a versão de figura mais elementar, base fundamental do conceito, vejamos também na matemática, na sua forma mais elementar, o que constitui uma figura e observemos como é equivalente ao exposto antes:
Para um matemático uma figura constitui uma representação Fig de uma coisa complexa Cc de modo a que se tome como mais simples, como modelo ou “sombra” da coisa mais complexa. Assim para resolver a coisa complexa Cc, aplicam-se os procedimentos Pr em Fig e após a sua compreensão em Fig remonta-se a Cc. Se os procedimentos têm sucesso em Cc então a figura Fig está operacional (constrói-se a teoria), inversamente, se os procedimentos Pr falham em Cc, então haverá que reformular a figura Fig, voltar ao início, delineando outro modelo, etc. Sublinhe-se que a figura Fig é necessariamente idealizada ainda que, como nas Artes, se possa dar forma concreta ao modelo ideal.