A questão é saber se deve ou não ser esta a via de facto, para um desenvolvimento cultural.
1 - Da Arte do Teatro;
a) criação;
b) encenação;
c) representação;
etc..
2 - Da Formação Cultural da população (o público)...
3 - Do conhecimento e enriquecimento do universo cultural da Nação.
4 - De divulgação global do universo cultural e linguístico...
... etc. ...
- Quais os resultados destes investimentos?
- Que público se obteve? (público pagante, não os bilhetes oferecidos pelos envolvidos).
- Qual o enriquecimento no Universo Cultural e linguístico?
- Que divulgação e que retornos houve?
Mas há que distinguir Teatro e Rapsódia
A diferença entre Teatro e Rapsódia é abismal...
Quanto aos rapsodos, e à sua actividade, caracterizavam-se (e não se caracterizarão ainda?) em geral, como incapazes de interpretar o sentido dos versos, e menos ainda o seu carácter figurativo. Uma passagem do Banquete, de Xenofonte, é bastante significativa:
Meu pai, respondeu Nikératos, esforçava-se para que eu me transformasse num homem de bem, e obrigou-me a aprender pelos versos de Homero. Assim, hoje, posso recitar de cor, do princípio ao fim, todos os versos de Homero.
- Ignoras tu, disse Antístenes, que também os rapsodos sabem de cor esses versos?
- Como poderia ignorar, eu, que sou um ouvinte quase diário deles? Tu conheces alguma raça mais tola (idiota, grego) do que a dos rapsodos?
- Não, por Zeus, respondeu Nikératos, de facto não.
- De facto, torna-se claro, disse Sócrates, que eles não conhecem o sentido oculto dos versos, a hiponóia.
(Xénophon, Banquet, Paris, Les Belles Letres, 1972. III, 6 - p. 49)
Em Íon de Platão:
A patetice de Íon está evidenciada nesta sua intervenção no diálogo: ... acredito dizer melhor a respeito de Homero que (…) nenhum outro dos que existiram até hoje, e nem Metrodoro de Lâmpsaco, nem Estesímbroto de Tasos, nem Glauco, foram capazes de dizer tanto nem exprimir pensamentos tão belos.
O rapsodo compara-se aos famosos intérpretes que se seguiram a Anaxágoras, como leitores da hiponóia, isto é, do sentido e pensamentos no mythos das obras de Homero. Ele equipara-se aos verdadeiros analistas do sentido e conteúdo da obra poética, o que, para além de denotar a sua enorme e alheada ignorância, manifesta a sua completa idiotice, juntando a falta de consciência no que diz à sua incapacidade de leitura de uma obra poética.
Como qualquer iconoclasta, ao fragmentar a obra poética está destruindo o seu mythos e, sem ele, a obra poética deixa de ser Teatro para passar a ser apenas espectáculo... Não de teatro, mas espectáculo de coribantes, ou de dicção (ou declamação de versos, cujo significado poderá estar apenas nas palavras), coreografia e expressão corporal e emocional. Uma forma de expressão vivencial de actores coreografada pelo encenador, como qualquer ion.
Porque é que as Companhias de Teatro estarão a preferir as Rapsódias (como Íon) em vez de peças de Teatro?...