Em Feira, Natal de 1524 como se comprova, representam-se os conflitos criados pelas decisões firmes de Clemente VII (desliga-se da Banca dos Fugger) em confronto com o Império e os seus meios financeiros e políticos, tanto no seio da Igreja como na Europa, o seu reflexo nas ideologias (na religião) e na luta pelo Poder, e assim, pelo TEMPO (que tudo tem) começa-se a feira chamada das Graças;
Note-se que na apresentação Mercúrio se refere à inquietação causada pelo alinhamento dos planetas (1524) e de tudo o que daí se adivinha, os medos causados por muitos aventureiros da adivinhação, dando o autor os necessários ensinamentos sobre a questão, dizendo que a previsão do futuro é sempre uma treta e, ainda durante o Auto, é referido o jubileu, ano do jubileu (1525) que se inicia, no Natal de 1524, 1525 pelo nascimento. E todo o seu mythos na acção dramática demonstra a sua datação em 1524, como evidencia a sua análise.
Stanislav Zimic notou que, pela acção, o auto seria anterior a Maio de 1527.
Apresentamos a seguir a parte inicial do Auto da Feira, mas apenas como prova do que afirmámos. Nos versos do prólogo, em palavras de Mercúrio, Gil Vicente faz uma boa paródia aos mágos, aos astrólogos e a outros "leitores dos astros" — os matemáticos, Johannes Stoeffler (1452-1531), falando da Cátedra da sua Universidade, levou mais de duas mil pessoas a abandonar Londres em Fevereiro de 1524 — que durante todo o ano ainda continuavam a amedrontar o povo, pois vinham dizendo que tinha havido apenas um erro de cálculo, e que o fim do mundo iria suceder a muito curto prazo. No Auto dos Físicos do mesmo ano, há também referência ao alinhamento de planetas.
Em Portugal os astrónomos e matemáticos (Simão Fernandes, Francisco de Melo e outros), acalmavam as populações repondo a verdade. Com certeza por ser mais frequentador da Corte e próximo de Gil Vicente, a acção de Francisco de Melo é sublinhada no prólogo do Auto da Feira.