Entra primeiramente um lavrador
por nome Vasco Afonso e diz:
Pois que já entrei aqui,
nam se me escusa falar...
Eu som dalém de Tomar,
e casei em Almeirim...,
ali mesmo no lugar.
Agora, agora, agora,
esta doma que lá vai...
Soma, que casei embora
sem licença de meu pai...,
e diz, que a nam quer por nora...
E seu pai, er, assi...,
porque se casou furtada,
nem chique, nem mique, nem nada
dão a ela, nem a mi...,
assi, pola desnevada!
De maneira,
que eles tem birra de nós...,
dizem que nem giesteira
- pois que nos casámos sós -
nam temos na Panasqueira.
Perém, amor lhe tenho eu...
E ela, samicas a mi...,
que ela o diz, soma assi,
porque ela nam tem de seu,
meu pai deu-me, e eu fogi...
E juramento faço òs céos...,
que deram tantas a enha esposa,
que é pera dar graças a Deos...,
porque, bem como raposa,
lhe estiraram a ela os véos.
Ora, o nosso cura, er
porque se paga dela,
e sicais andou com ela,
soma vonda, que nam quer
receber-nos, a mim e ela.
Mas raivar,
que já recebidos semos,
dentro, bem no seu linhar...,
todos os verbos dissemos
que se dizem ò casar.
Diziam a mim, lá deles,
que, quem casa por amores,
nam vos é nega dolores...,
emperol, que sabem eles,
Deos faz dos baixos maiores.
Aguardai,
digo agora, que casei
sem licença de meu pai,
e de enha mãe... Eu herdarei...,
ou sabeis como isto vai?
A mim, dizem-me que não,
e se é daquela maneira,
nam herdo eira nem beira,
mas nam semelha rezão...,
mas senefica cenreira.
Que se fora
a cachopa peca, ou charra,
ou algua zanguizarra,
preguiçosa ou comedora...,
que bradassem muito embora!
Mas tais vos fossem assi
as pulgas da vossa cama...,
soma abonda, que minha ama
me dixe lá em Almeirim,
nam sei como se ela chama:
Vai sandeu,
a Élvora por alvaral
del rei, que te dem o teu
como passar o Natal...
E a isto vinha eu...