Reposição: o problema de facto
A simetria constitui parte da essência do problema: ordenar os algarismos de um número obtendo dois números, um por ordem crescente, o outro pela decrescente. Subtrair do maior o menor, e repetir as mesmas operações com o número resultante. Além disso, em termos conceptuais, a rotina de Kaprekar não se fixa apenas nos valores numéricos dos conjuntos de algarismos e dos valores próprios dos algarismos de per si, mas sobretudo na sua decomposição e reorganização ordenada dos algarismos que compõem o número; obtendo dois conjuntos de algarismos, simétricos, criando dois novos valores numéricos, aos quais aplica uma operação de subtracção para obter um novo número, onde os zeros à esquerda são obrigatórios (obedecendo às regras do sistema numérico) para dar continuidade ao algoritmo, tal como seria de esperar, aqui como na concepção do todo do problema.
O sistema numérico é posicional e a introdução do zero foi uma das grandes conquistas da humanidade, o zero veio ocupar os lugares vazios, o lugar das dezenas, centenas, milhares, etc., quando nulos. Embora na prática não se representem nem se pronunciem, os zeros não deixam de existir nos espaços vazios, eles existem de facto, pois a concepção do sistema numérico assim o exige e determina. Na realidade, os zeros à esquerda estão sempre lá como lugares vazios, em qualquer valor numérico, e estão lá até ao infinito, tanto como estão do outro lado, à direita do ponto marcador das unidades.
Tenha-se em atenção que, embora estejamos habituados a fazer a leitura numérica da esquerda para a direita, a leitura e escrita mais correcta dos números devia ser feita da direita para a esquerda, começando pelas unidades, dezenas, centenas, milhares, etc., e assim a inutilidade de representar o zero (na origem o lugar vazio) no infinito espaço vazio para além do valor que se pretende representar, pois, se assim não fosse, teriam de se acrescentar zeros até ao infinito. E do mesmo modo para os valores menores que zero.
Note-se, portanto, que um número composto por quatro algarismos será sempre um número que será representado necessariamente pelas quatro posições, a saber: o lugar (casa) das unidades, o lugar (casa) das dezenas, o lugar (casa) das centenas e o lugar (casa) dos milhares. E, como sabemos, o zero foi introduzido no sistema numérico como um algarismo para ocupar os lugares, ou casas vazias.
Na verdade podíamos espelhar o sistema numérico que, actualmente e em consequência das suas origens históricas, alinha as unidades pela direita, crescendo à esquerda, de modo a alinhar as unidades pela esquerda, crescendo à direita, de modo simétrico ao que hoje usamos, que nada se ia alterar, a não ser, criar alguma complexidade para a nossa visão e concepção do sistema.
Contudo, é de certo modo uma utilização aparente (só aparente) desta simetria que permite à rotina de Kaprekar obter os números 495 (o ponto médio da sequência numérica de três algarismos) e 6174 (o ponto correspondente à média e extrema razão na sequência numérica de quatro algarismos).