...a nossa leitura do mythos destas obras de Gil Vicente, transporta-nos para uma remota mas firme origem no teatro grego de Aristófanes, na Comédia antiga.
... Lendo o Breve Sumário da História de Deus, e o Diálogo de uns judeus sobre a Ressurreição. De facto, nem um nem outro são autos religiosos, e claro, nenhum deles é um auto de devoção, como o não são os autos de Natal.
História de Deus (Fev-Mar 1528) e Ressurreição (Páscoa 1528)
O Breve Sumário da História de Deus (antiga datação Fev-Mar. fim de 1527), figura parte da história da guerra de Itália, logo após os primeiros dias do saque de Roma, que culmina com a prisão da “Igreja” no Castelo de Sant’Ângelo, o seu cerco, até ao previsto acordo entre Carlos V e o Papa, com a libertação de Clemente VII sob resgate, a fim de preparar o tratado mais tarde assinado a 12 Fevereiro de 1528 em Dordrecht, com a libertação dos membros do Estado Pontifício em 16 de Fevereiro.
O fim do Auto, corresponde ao fim do cerco devido à peste que se espalhava em Roma no início de 1528 (Cristo da Ressurreição). Aqueles diabos e figuras Bíblicas são, entre algumas alegorias, os mais poderosos senhores da Europa, que estão de um lado e do outro do conflito, colocados em presença dos ideólogos e das ideologias.
O auto nada tem de devoção, pelo contrário, e completado com Ressurreição constitui, como outros autos de Gil Vicente, uma das obras primas mais importantes do teatro de Renascença. Sabemos que estamos a deixar algo incompleto e talvez incompreensível, todavia, pela sua complexidade, não cabe aqui a descrição do auto.
Como o Auto da Alma, demonstra-se por clarividência.