E porquê?
Porque
Quase todos os anos as editoras portuguesas que publicam livros para a educação dos jovens, devidamente apoiadas pelos mais destacados académicos, especialistas vicentistas, renovam as suas edições de Inferno, Índia, Inês Pereira, Alma, e até outras obras de Gil Vicente. Agasta-nos o estado da educação em Portugal, porque os docentes sempre foram e continuam a ser os últimos valores considerados pelo Poder numa escala de gente formada superiormente ou mesmo sem esta formação – exactamente por serem os mais mal pagos representam a última escolha profissional, quando, para assegurar o futuro do País, devia ser a primeira escolha, – e custa-nos continuar a constatar que, nas edições referidas, se verifique por demais as grandes dificuldades dos seus autores em “conseguir interpretar, relacionar e analisar informação contida em textos, literários e informativos, relativamente complexos”, que assim continuam a transmitir aos mais jovens educandos essa sua herança. E custa-nos ainda porque, desde 2008, que, sobre as obras de Gil Vicente, temos demonstrado e continuado a demonstrar, em termos científicos de facto (que não por formalismos estéreis), revelando o como fazer, a metodologia científica em acção, em resumo e em termos comuns, realizando a análise da informação contida em textos literários (dramáticos) e informativos (em didascálias) relativamente complexos, bem como a relacionar a informação, até com (toda e) a respectiva realidade coetânea, e a interpretar mais correctamente os textos relativamente complexos das obras de Teatro do nosso Autor dramático mais destacado.[1]. Acresce que desde 2008 que temos vindo a enviar às mais importantes universidades portuguesas, e estrangeiras, com destacados estudos vicentistas, todas as obras que vamos publicando, pelo que podemos e devemos concluir que nos últimos dez anos temos andado a lançar pérolas a porcos. Porque, na melhor das hipóteses, os nossos trabalhos nem foram lidos, pois talvez porque a nossa simpleza não se coadune com o quilate da proeminente erudição académica vicentista, porém, parece-nos que, contra o que seria de esperar por parte dos Conselhos Científicos, estes não têm zelado pelos objectivos universais, o universalis inerente às universidades, pela necessária e constante actualização da universalidade do conhecimento no que respeita à erudição vicentista. Não se trata de profanação, estamos apenas a constatar a realidade actual emanada dos meios culturais e eruditos mais especializados, um facto porque, nem do nosso trabalho nem da sua simpleza, em dez anos, nunca houve qualquer pronunciamento negativo, ou contestação, nem o mínimo reflexo.
Não negamos, nem somos contra as interpretações simplistas - mas repudiamos as simplórias - pois, as interpretações simplistas são dominantes em todo o cenário nacional, porque o Autor das Obras assim as criou, com o Filósofo e o Parvo – Parvo atado ao pé – de tal modo que assim admitem ser lidas ou representadas na sua simpleza, seguindo Platão [em Fedro, 277c], oferecendo à alma complexa discursos complexos e com toda a espécie de harmonias, e simples à alma simples.[2] Nem somos contra, sobretudo porque assim as Obras chegam a todos, e como as almas simples não constituem entidades instituídas, não são responsáveis pela formação da população a quem se divulga as leituras simplórias das peças, nem intervêm na educação dos jovens estudantes nas escolas, onde se continua a impor a simpleza interpretativa das Obras. O que contestamos firmemente é a imposição e insistência na simpleza oferecida ao público e à educação dos jovens – a leitura do Parvo – por aqueles que, sentindo ter trepado ao lugar mais alto da torre de marfim, ocupando as cátedras universitárias e assumindo-se como especialistas vicentinos, subtraem aos educadores dos jovens as interpretações mais avançadas das Obras – pela leitura do Filósofo (...).